27.10.10

O fator fã.

Quando um músico é realmente bom no que faz, ele consegue arrematar para si uma legião de pessoas que admiram e acompanham seu trabalho: os fãs. A relação fã/ídolo é uma temática que nunca deixou de ser discutida na esfera artística. Existem histórias ótimas a respeito disso, mas também tem as trágicas. O assassinato de John Lennon não me deixa mentir.

Tenho uma amiga que é fã de Engenheiros do Hawaii. Ela viaja longas distâncias só para acompanhar shows com um repertório que ela possivelmente conhece de cor e salteado. Já dormiu em rodoviária, madrugou em frente ao hotel em que estavam hospedados, levou bronca do chefe por faltar para viajar... Ao ser questionada se não acha tudo uma perda de tempo, ela responde, como qualquer fã incondicional, que tudo vale a pena se for para acompanhar de perto o trabalho da banda que ela ama. Sobre seu ídolo Humberto Gessinger, ela é sincera ao dizer que ele é um cara chato, mas isso não diminui sua dedicação ao acompanhar o trabalho dele. Afinal, ele é atencioso com quem o procura para fotos e autógrafos, mesmo que nem sempre esboce sorrisos e esbanje simpatia. Esse caso é apenas um exemplo de uma fã sensata que consegue reconhecer que por trás do artista existe uma pessoa comum, que tem vida além dos palcos e como qualquer outra tem seus dias de indisposição. Algo que nem todos entendem.

Não é difícil encontrar músicos taxados de arrogante por aí, pela mídia e até mesmo pelos próprios fãs. Alguns obviamente merecem a fama que tem. Liam e Noel Gallagher do Oasis são disparados o melhor exemplo que tenho para citar. Pelo que muitos dizem, os caras consideram sua banda a melhor do mundo e dizem vender mais discos que a Bíblia.  Ao fazer uma pesquisa rápida entre amigos, também foram citados João Gilberto, Los Hermanos, Caetano Veloso, Lulu Santos, Metallica e Tico Santa Cruz. Cada um deles citou a motivação que os levaram a pensar que as atitudes desses artistas eram consideradas arrogância. João Gilberto, por exemplo, foi citado por sua má vontade em dar entrevistas, Tico por achar que é o cara mais intelectual da face da Terra e o Metallica por um episódio de 10 anos atrás quando, por meio de uma ação judicial, proibiu um programa que baixava e compartilhava músicas pela Internet.

Essa discussão é abrangente e pode tomar rumos diversos. Esses dias li um texto que avaliava essa questão a partir da visão dos fãs. Pois, tem muita gente que reclama dessa postura mais arredia quando é travado o corpo a corpo fora dos palcos. A recusa de um autógrafo, uma foto, um aceno, uma entrevista e até mesmo um sorriso é vista com maus olhos, já que acaba sendo considerado desrespeito e desatenção com aqueles que fazem o cantor ou a banda se manterem nas paradas do sucesso.

Minha opinião é diferente. Ser sempre simpático, ter boa vontade e disposição para agradar milhões de desconhecidos que se jogam na sua frente, ávidos por um minuto de sua atenção, não deve ser fácil. Imagina sair cansado de um mega show, onde você se doou de corpo e alma e ainda ter que ficar esbanjando sorrisos quando sua única vontade é ir dormir. “Há de se diferenciar arrogância de verdade da natureza tipicamente reservada de algumas pessoas. Não é do temperamento de todo músico – e nem precisa ser – ficar distribuindo sorrisos e papo furado a todos os fãs que lhe abordam. Imagina que saco deve ser!?”.

Se o cara sobe em um palco, detona clássicos e mais clássicos e sai sem interagir com o público após o show, os fãs não tem do que reclamar. O trabalho dele é cantar pra você, não ser seu amigo. Ter admiração é uma coisa, idolatria é outra. Idolatrar qualquer ser humano é uma idiotice sem tamanho e quando eu vejo gente chorando por um artista, quero cortar meus pulsos. No caso da música, compreendo que no momento em que você ouve uma determinada canção que te marcou, a emoção bate e não dá para segurar, mas passado isso, acabou. Não tem que sair correndo atrás, puxar, arranhar, gritar, se humilhar pela atenção de uma pessoa que nem te conhece e se caso te notar, nem se lembrará da sua existência posteriormente.

Na relação músicos/mídia também rola umas estremecidas. Tem muita gente que não gosta de conceder entrevistas e ponto. São enfáticos quanto a isso e tem seus motivos. Não é difícil notar que muitos deles pararam de dar atenção aos jornalistas depois de anos sendo entrevistados por pessoas inconvenientes, que não se preocupam sequer em checar fatos antes de fazer qualquer pergunta, ou fazem perguntas óbvias. Um exemplo disso é a clássica sobre a música Anna Júlia aos caras do Los Hermanos. Tem coisa mais chata do que ter que responder a mesma pergunta por anos a fio?

Só para finalizar, quero dizer que sou muito fã do Chico Buarque. Admiro suas composições e seu jeito de traduzi-las através da entonação da voz. Nunca o encontrei pessoalmente, mas, se um dia o encontrar e ele não me der atenção, não vou deixar de apreciar sua música. Porque, afinal de contas, não quero saber do Chico homem, do Chico político, do Chico amante... Se ele é arrogante ou não, se ele é bonzinho ou malvado, isso é problema dele. Eu quero apenas o Chico cantor. Isso, pra mim, é ser fã. Simples assim.

É isso, galera! O que acharam do texto, do tema, dessa discussão? A propósito, essa temática foi sugerida por meu colega Luisão. Se algum de vocês quiser sugerir algo, tô aberta a sugestões. ;)

Obrigada a todos os comments do texto da semana passada. Teve uma galera nova comentando e eu achei muito bacana. Fiquem à vontade para divulgar o blog por aí, viu. Agradecimentos a minha amiga Sara que autorizou que eu a citasse como exemplo e aos meninos que colaboraram com opiniões e informações para o texto.


Um beijo e até semana que vem.

Colaboração - Luisão, Rodrigo Furquim, Thiago "Tatu" Andrade e Rafael Marcondes.
Revisão - Felipe Rui.

20.10.10

Construção

Antigamente, eu costumava reclamar da dificuldade de engatar uma relação com alguém. Não falo sobre a máxima dita hoje em dia “está difícil namorar”. Estou entrando em um campo muito mais amplo da questão, que é, após encontrar essa pessoa, construir com ela a tal relação.

Esses dias, conversando com uma amiga no MSN, discutíamos exatamente sobre isso. Ela contava que estava junto com uma pessoa há algum tempo, mas que os dois ainda não haviam definido se eram namorados ou não. Para ela, havia sentimento, mas faltava o apego.

Acredito que o apego ao qual ela se referia está muito ligado a confiança. Não exatamente aquela confiança que te faz crer que o outro não vá te trair, mas o sentimento de que tudo está em seu devido lugar dentro de nós mesmos, para se ter certeza de que namoro é o caminho que a relação deve percorrer.

Tem muita gente que carrega consigo, como uma bagagem, traumas de relações passadas. Consequentemente essas emoções mal resolvidas tendem a afetar qualquer nova relação que se inicia. Acho que o caso dela era esse. Aí, é uma questão de ser paciente e fazer alguns questionamentos pessoais.

O quanto você gosta da pessoa em questão? Qual o grau de afinidade de vocês? Há quanto tempo estão juntos? Existe o senso comum de que é cedo para namorar ou um dos dois quer mais isso que o outro? Enfim, é tudo uma questão de sentar e fazer a velha DR. Tem gente que odeia esse termo, os homens principalmente, mas creio que, quase sempre, é conversando que se entende.

Construir uma vida a dois é difícil e, paradoxalmente, também é muito fácil. Conhecer a pessoa que está ao seu lado é uma árdua tarefa que a meu ver tem toda uma doçura embutida. Compreendo que, às vezes, abrir mão de suas velhas convicções para dar espaço a um novo ser que entra em sua vida e joga por terra tudo que você considerava como lei, é assustador. Mas, tem coisa mais deliciosa do que se livrar de velhos paradigmas, abrir mão do egoísmo e se jogar na aventura de um novo amor?

Claro, tem que haver respeito pela individualidade, porque em uma vida a dois, sua personalidade não deve ser subtraída pela do outro. A paixão também é fundamental e mesmo que já exista amor, ela não deve morrer. O sexo é completamente ligado ao nível de paixão existente na relação. O desejo do corpo também deve continuar existindo, senão bye, bye.

A vida é feita de experiências e experimentar tudo que te apetece ao lado de alguém bacana, independente de qual nome foi estabelecido para a relação, é algo valoroso demais para ser perdido por conta de medo, insegurança e traumas passados.

Para quem está com esse mesmo questionamento da minha amiga, só tenho um conselho: não perca seu tempo tentando nomear sentimentos e relações. Apenas sinta e viva tudo que for possível e que te faça bem, ao lado de quem você gosta. Com o tempo, as dúvidas se dissipam e o apego pega vocês. (risos) 

Um beijo e até o próximo post. (semana que vem, hein!)

Colaboração Ana Kopp.
Revisão Felipe Rui.

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Obrigada pelos comentários que recebi nos textos da semana passada. São um grande incentivo pra mim. Um beijo para Lílian Graciolli, Sidney Hamano, Jaci Viana, Ana Kopp, Lana Abreu, Osmar "Rei" e Rodrigo Furquim que não comentaram aqui, mas me deixaram recados muito legais. Sempre fico muito feliz por esse feedback!

14.10.10

A era das falsas gostosas.

Costumo dizer que namorado meu tem muita sorte no quesito ciúme. Esse mal me acomete muito raramente e enquanto a maioria das mulheres se rói por dentro quando o boy vai dar uma olhada em uma revista com ensaios sensuais, eu vejo com ele e ainda comento sobre.

Estou falando disso porque fiquei sabendo que a Mirian Bottan, tuiteira que sigo, fez um ensaio para a TRIP e fui conferir. Assim como fiz com a Playboy da Tessália e da Cléo Pires e com as fotos da minha amiga Lílian Graciolli na VIP ou das meninas do Lingerie Day que apareceram na Sexy. Eu adoro fotografia e, não raramente vejo ensaios de revistas, do Paparazzo e etc. É bacana, porque dá para ter ideias para fazer suas próprias fotos. rs

Tá, falando sério, eu vi o ensaio dela, pra variar fui espiar os comments  e fiquei chocada com as críticas. Não vou citá-las aqui, porque acho desagradável, mas me custa entender o que é ser exatamente gostosa hoje em dia. A menina é perfeita, o ensaio dela foi lindo e vem gente dizer que imaginava algo melhor ou que pensava que ela era mais isso ou mais aquilo. O pior de tudo nem foi ver os comentários masculinos. Os femininos é que me assombraram. Ô classezinha desunida, viu. (risos).

Então, fiquei pensando: o que afinal é ser GOSTOSA? É ter um peito entupido de silicone, uma bunda a lá Mulher Melancia e coxas como da Viviane Araújo? Por favor, né? Entendo que cada um tenha suas preferências, mas aí é demais. Lembro que quando a Tessália posou nua, choveram comentários dizendo que os peitos dela eram murchos e outras coisas absurdas só porque eram naturais. E na época eu também fiquei passada porque, para mim, aquilo era bonito, assim como acho a Mirian bonita e a Cléo e todas as moças fora do padrão atual. Que, aliás, nem sei exatamente qual é.

Antigamente, mulheres com curvas naturais eram consideradas gostosas. Vide Marilyn Monroe e Rita Hayworth que não era nenhum exemplo de falsa gostosura. Porque com silicone, lipo e Photoshop todo mundo fica uma maravilha.

Ainda estou acompanhando os comentários lá e não canso de me surpreender. Uma moça inclusive questionou o fato de um cara tê-la chamado de invejosa porque ela fez uma crítica. Disse que só porque não gostou, não quer dizer que seja inveja. Concordo com ela, porque no final das contas, cada um tem seu direito de gostar ou não do que vê. Mas, eu a perguntei, o que ela considera ser “gostosa”. E também te pergunto: o que é ser gostosa (o) pra você?

Espero que vocês comentem, pois estou super curiosa para saber o que as pessoas andam pensando a esse respeito.

Beijos! 

Revisão Felipe Rui.

SWU – Um festival de “sustentabilidade” financeira.

O tão esperado e comentado festival de música brasileiro, o SWU, que rolou entre os dias 9 e 11 de outubro, deixou para trás um rastro de dúvidas, questionamentos e indignação geral. Eu cheguei a citá-lo no meu último post sobre Sustentabilidade, porque achei a proposta interessantíssima e muito válida. Afinal, levantou discussões sobre um tema atual e necessário. Pois bem, fui prestigiar o evento no seu último dia, e assim como muita gente que já postou textos a respeito, tenho lá minhas considerações.

Em termos de atrações, não há do que reclamar. O line-up foi extraordinário e deu a oportunidade de muita gente conferir bandas ótimas como Pixies, Kings of Leon, Dave Matthews Band, Queen of the Stone Age, além de cantoras perfeitas como Joss Stone e Regina Spektor e muitas outras coisas boas. Conferi o show do Pixies, já que foi para isso que fui até lá, extasiada e emocionada com a comoção das pessoas que estavam ao meu redor. Diga-se de passagem, meu boy cantou TODAS as músicas deles até ficar sem voz. Perfeito.

Em contrapartida, a organização do evento foi muito ruim. A estrutura, claro, era enorme e talvez por isso, tenha sido difícil pensar em exatamente tudo que fosse pertinente para deixar um evento desse porte impecável. Porém, os organizadores voltaram seu foco todo para o marketing da divulgação, aliando o evento a uma causa sustentável que sequer existiu. Porque na prática, meus caros, a teoria é outra.

A entrada foi um caos. E me admira muito que no TERCEIRO dia eles ainda não tivessem conseguido alinhar isso. Organizar filas de entrada não deve ser algo muito complexo, mesmo com um público de mais de 40 mil pessoas por dia. Principalmente porque eles já deviam prever isso a partir da quantidade de ingressos vendidos. Eles não tiveram a capacidade de contratar seguranças especializados em eventos, simplesmente deixaram a revista, triagem e segurança nas mãos de PM’s. Durante a revista, foi uma loucura ver aquele monte de comida sendo arremessado para o alto, tendo ao fundo coros de “uhuul” e “aeeee” da platéia ávida por entrar logo. Lamentável. Eu nem tinha levado comida, mas fiquei muito revoltado com toda aquela falta de senso. A conferência dos ingressos também deu problema. Era um tal de “sistema fora do ar” que chegava a ser irritante. Custava conferir manualmente só para agilizar o processo? E no final das contas, nem se atentaram para detalhes como carteirinha de meia-entrada, RG, etc. 

Quando finalmente conseguimos entrar, fomos dar uma olhada no que tinha para comer. Caramba, eu tô acostumada a ver preços absurdos em eventos, mas aquilo ali era exorbitante. Um verdadeiro festival de “sustentabilidade” financeira. Tá certo que os preços talvez nem fossem definidos pelos organizadores, mas sim pelos patrocinadores ou empresas responsáveis pela venda da comida. Mas, mesmo assim! Pagar R$6,00 por um espetinho “meia-boca”, não é nada engraçado. Sem falar que o tal “refil” para bebidas não rolou. A idéia era que quem comprasse alguma bebida, ganhasse desconto na próxima compra se apresentasse o mesmo copo. Os atendentes nem sabiam disso. Foi copo plástico jogado no chão e o conceito sustentável no lixo. Obviamente que faltava educação por parte das pessoas, porque eu vi latões de lixo em vários lugares, mesmo que mal distribuídos. Já quanto às filas para comer, eu fugi delas. Escolhia o lugar que estava menos cheio e comia por lá mesmo. Talvez por isso, eu só tenha comido o famigerado espetinho. (risos) 

Os banheiros foram até razoáveis. Não tinha fila, não estavam absurdamente sujos e na sua maioria tinha papel. Ou seja, para um evento daquele porte, não dava para fazer nada muito melhor.

As palestras e “monumentos” organizados para promover a sustentabilidade passaram batido. Não conseguíamos sequer encontrar um lugar que entregasse a programação dos shows, que dirá saber os horários que rolou isso. Uma pena, porque devem ter sido interessantes. Eu até vi a tal roda gigante movida a pedaladas e uma estrutura construída com garrafas pet para escalar, mas não estava com vontade de pegar fila para conferir de perto. 

Já a água, eu não perdôo. O fato de não ter bebedouros, não ser permitida a entrada de garrafas com água e vender uma garrafinha de 300ml por R$4,00 foi o que mais fez o festival cair no meu conceito. Um absurdo sem tamanho. A saída foi muito mais tranqüila que a entrada. Quando o Pixies acabou de tocar, voltamos para nosso ônibus sem nenhum problema ou o caos relatado por quem foi no dia 09.

De qualquer maneira, posso dizer não me arrependo de ter vivido a experiência. Nunca tinha ido a nenhum evento desse porte e fora os pontos ruins que tenho em comum com grande parte do público que o prestigiou, posso dizer que em 2011, se acontecer novamente, estarei lá. E provavelmente, sustentarei os bolsos desses organizadores caras de pau só para poder ouvir e ver as bandas que gosto. Só espero que no próximo, eles abandonem esse discurso sem-vergonha de sustentabilidade, porque certamente, não vai colar.

E aí, quem foi no SWU? Me contem! 
Beijos e até o próximo post. 

Revisão do boy Felipe Rui.