28.11.10

"Não há lugar como o lar."

Como um pássaro que acabou de aprender a voar, sempre sonhei alçar voos mais altos. Mesmo feliz com minha família e amigos, eu tinha em mente mudar de cidade, conhecer novos lugares e ir por aí, sem lenço nem documento. Sendo assim, desde muito pequena, quando ficava brava com algo, meu primeiro desejo era ir embora. Como se o fato de mudar para um lugar diferente fosse capaz de aplacar minhas frustrações. Sempre que isso acontecia, minha tia pegava uma mala velha que tínhamos em casa e, sorrindo, mandava eu colocar minhas roupas ali e partir.

Quando completei 19 anos, arrumei mesmo minhas malas e parti para o desconhecido. Eu tinha um plano e a vida me deu a chance de cumpri-lo. Confesso que nada saiu como planejei e foi duro descobrir que eu estava sozinha para enfrentar minhas próprias escolhas. Algumas certas, outras muito erradas, mas todas elas eram, a partir do momento que coloquei os pés para fora de casa, minha responsabilidade.

Obstinação sempre foi meu nome do meio e o que me tornou capaz de continuar. Afinal, mesmo quando a noite chegava e eu me deitava na cama, chorando sem ter com quem conversar, eu sabia que não poderia e nem queria parar. Estava apenas começando.

O primeiro ano da minha nova jornada foi recheado de solidão, insegurança e sofrimento. Mas, em nenhum momento,  a não ser por duas vezes que liguei para minha mãe e outra para minha vó aos soluços, eu quis aceitar que eu poderia e deveria voltar para trás. Aquilo parecia completamente inadimissível, pois seria como se eu estivesse rebobinando, a muito contragosto, a história da minha existência.

Com o tempo, eu aprendi a ser sozinha. Mas, nos seis anos que sucederam a primeira saída de debaixo da asa da minha família, muita gente passou pela minha vida. Morei com uma amiga que só me trouxe problemas, em uma república mista que estava caindo aos pedaços, por dois anos com um namorado que era como o pai que nunca tive, em uma outra república só para meninas, onde fiz três grandes amigas, depois com mais quatro amigas e por fim, com uma das três grandes amiga e o namorado dela. Ufa! Sim, fui meio que uma cigana. Fora isso, tiveram os amigos da faculdade, do teatro, do ballet, das aulas de desenho, dos estágios e empregos...

Quando a faculdade acabou, eu sabia que tinha que ir para casa. Lá estavam recordações da infância e adolescência, pessoas que me amavam, meu quarto, minha cadela... Só que eu ainda não via sentido naquilo e fiquei pelo menos um ano enrolando para decidir. Mas, chegou uma hora que não dava mais para adiar e o destino acabou me dando uma chance de tentar. Nesse ímpeto de confiança, joguei minha apreensão de lado, coloquei minhas roupas de volta nas malas e fiz o caminho oposto. 

A experiência foi interessante. Adorei estar com a família, rever bons amigos, fazr algumas novas amizades, enfrentar antigos demônios que me assombravam e reconstruir a minha imagem de lar. Mas, todos sabemos que um passarinho que já aprendeu a voar, não consegue voltar de vez para o ninho. 

Hoje, cá estou eu, novamente muito longe de casa e contando essa historinha para vocês. Que a propósito, devem estar pensando “nossa, que pessoa mais desapegada”. Não, eu não sou assim e acho que ninguém é. Porque, quando o assunto é família, no fundo, ainda somos crianças. Não importa o quão velhos fiquemos, sempre precisaremos de um lugar para chamar de lar. Porque sem as pessoas que você mais ama, nunca poderá evitar de se sentir sozinho no mundo.

Revisão Felipe Rui.

Então é isso, pessoal. Essa foi a temática da minha semana. Algo que deve ter vindo à tona, porque estou com uma tremenda saudade de casa. Ainda bem que o Natal está chegando e eu vou ficar pertinho da minha família um pouco.
Agora me contem, como é essa relação para vocês?

Beijos e até semana que vem. Que a propósito, vem com um texto quente. hehehe

19.11.10

Add a new friend

É de praxe dizer que amigos são os irmãos que escolhemos. Alguns nos acompanham por uma vida inteira. Outros tem apenas uma breve passagem em nossa história. Mas, é fato que, como já dizia Tom Jobim, “É impossível ser feliz sozinho”. E ao longo de nossa trajetória, buscamos agregar pessoas com as quais nos identificamos.

A infância e a adolescência são períodos fortemente propícios para ganhar o maior número de amigos possíveis. Frequenta-se diversos grupos e, por isso, acaba sendo mais fácil conhecer gente nova. Na escola, no bairro, no inglês, no futebol, no ballet... Não importa! Onde quer que você vá, sempre acaba conquistando a amizade de alguém.

A faculdade, obviamente, também se encaixa aí. Ao começar a frenquentar esse novo universo, você chega cheio de dúvidas e curiosidades e está doido pra compartilhá-lhas com as pessoas. Nada mais normal que ir formando grupinhos que duram em média o mesmo tempo que você passou por lá. Em alguns casos, existem pessoas que conseguem levar, assim como os da infância e adolescência, amigos dali para a vida toda.

Passados os anos dourados, vamos evelhecendo e nos tornamos mais exigentes e sem tempo. Alguns dos amigos que outrora foram imprescindíveis, parecem não mais se encaixar em nossa rotina cheia de horários, prazos, contas, cobranças. Fica cada vez mais complicado manter aquele contato que é tão significativo para a durabilidade das relações. Inconscientemente,  os velhos amigos vão sendo deixados para trás ou embaixo dos inúmeros compromissos diários de sua tão abarrotada vida moderna.

Fora isso, todos sabemos que a vida é permeada por mudanças. Às vezes, nos vemos obrigados a mudar de país, cidade, emprego, escola, bairro e por aí vai. Em outras, apenas escolhemos mudar nossos conceitos, gostos, conduta pessoal, estilo e por que não, amigos?

Eis que aí,  para muita gente, começa uma nova jornada em busca de pessoas que tenham mais a ver com a vida que se tem levado. Porque, por mais que você ame os amigos que trouxe lá de trás, nem sempre consegue administrar essa amizade. Não raro, vemos amigos magoados pelo esquecimento involuntário ou cobrando uma atenção que você sabe que deve dar, mas não pode. Eu, particularmente, tenho esse problema. Por mais que me esforce, tenho grandes dificuldades para manter laços profundos com quem não se encontra em meu convívio diário. Claro que a gente sabe que nenhum e-mail carinhoso, substitui um abraço de verdade. Nenhuma ligação de 5 minutos cobre sua ausência de semanas ou meses. E apenas um presente de aniversário não apaga o fato de que, você só lembrou do seu amigo, porque olhou no calendário e viu que era aniversário dele.

Às vezes olho ao meu redor e me percebo sozinha. Isso não acontece por causa da incapacidade de conquistar pessoas em minha vida. Pelo contrário, tenho ótimos amigos, construi amizades que trago no coração e creio que nunca irão morrer. Mas, eles estão praticamente todos distantes, em cidades opostas, impossibilitados de dar aquele aconchego bom que, às vezes, só quem nos conhece bem pode proporcionar. Amigos instântaneos não servem para isso. Não soa verdadeiro. Ou soa. Depende muito do seu jeito de fazer novos amigos e confiar nas pessoas.

Mas, e aqueles que não conseguem, como eu. Como ficam? Sem amigos, suponho. Sério, porque não sei vocês, mas para mim o termo “Add a new friend” tem funcionado muito mais na vida “internética” do que propriamente na vida real. Está cada dia mais difícil encontrar pessoas que realmente valham a pena ter uma amizade e isso é muito triste.

Por isso, não pensem que vim aqui dizer que todo mundo deve acabar as velhas amizades para começar novas, cada vez que a vida dá um giro de 180°. Pelo contrário, admiro muito quem tem a capacidade de administrar tão bem seu tempo e sua vida a ponto de conseguir dar toda a atenção que os os reais amigos merecem. Hoje, eu só vim compartilhar o quanto tem sido difícil fazer novos velhos amigos de verdade.

Revisão: Felipe Rui

Essa semana estou um tiquinho atrasada porque tive uns contratempos. Mas, tá aí o texto da semana e espero que gostem. Quando pensei em escrevê-lo, foi exatamente para compartilhar com outras pessoas uma dificuldade que é minha, mas que também pode ser de qualquer um.

Um beijo e até semana que vem! 

P.S. Obrigada a todos que deixaram, de alguma forma, uma opinião sobre o texto da semana passada. Digo sempre e repito, esse feedback é importantíssimo pra mim. =) 

10.11.10

Você venderia sua alma?

Quando escolhemos uma profissão, especialmente por afinidade, tudo que desejamos é alcançar o sucesso. Tem gente que chega lá com muita facilidade, seja por mérito ou o famoso QI. Em contrapartida, há aqueles que não conseguem chegar a lugar algum sem ralar muito, correr atrás e ficar em uma constante busca por aperfeiçoamento profissional.

Pergunta: onde começam as diferenças, quando o caminho iniciado é praticamente o mesmo? Teoricamente, somos preparados pela faculdade, sendo ela excelente ou péssima, da mesma maneira. Claro, estágios em sua área e cursos extra-curriculares são um grande diferencial, mas o que eu estou falando aqui é como as oportunidades chegam até nós. Por exemplo, o indivíduo X tem mais êxito profissional que o Y, mas o primeiro chegou lá numa boa e o segundo teve que suar a camisa.

Agora, vou para a segunda pergunta: considerando que você se encaixe na mesma categoria que o camarada Y, aquele que não consegue exatamente nada sem o mínimo de esforço possível. O que você é capaz de fazer para chegar ao topo?

Esses são questionamentos importantes para eu entrar no assunto que realmente vim tratar nesse post. Esses dias, perguntei aos meus seguidores e amigos no Twitter e Facebook: “Você venderia sua alma para ter sucesso profissional?”. Foram respostas extremas, com Não’s e Sim’s bem enfáticos. Um debate bem divertido.

Bom, agora vamos ao que interessa. Não sei quantos de vocês já ouviram isso, mas há muito anos, escuto uma história macabra de que a famosa Rainha dos Baixinhos só alcançou todo o seu sucesso, após fazer um pacto com o famigerado Coisa Ruim, também conhecido como Capeta, Cão Miúdo, Demônio, Diabo, etc. Ou seja, reza a lenda que ela vendeu a alma em troca da fama. Ok, eu não acredito nisso! É uma lenda urbana, sem dúvidas. De qualquer maneira, creio que cheguei onde queria.

Você, que acredita na existência de um espírito, uma alma que transcende nosso corpo, venderia a sua em troca de sucesso profissional? Seria capaz de conviver com a certeza de que jamais habitaria o Reino dos Céus, ou seja lá para onde vamos quando morrermos, para arder eternamente no mármore do inferno sob o espeto do Capeta, só para alcançar o tão almejado lugar ao sol?

E quanto a você,  que tem certeza absoluta de que a alma não passa de uma balela inventada para convencer as pessoas a comprar terrenos no céu. Teria coragem de vender a sua “alma”, aqui no caso, sua dignidade e ideologias em troca de um passe para o alto escalão da classe trabalhadora? Deixaria para trás seus conceitos, pisaria em alguém, mentiria ou engoliria seu orgulho por um salário mais polpudo? Para ser “o escolhido”?

Eu, particularmente, ainda estou nos primeiros degraus da minha escalada profissional. Como muita gente, acredito que a maioria, faço parte do clubinho do senhor Y, aquele do começo do texto, e nada me chega de mão beijada. Tenho dado tropeços e cabeçadas por aí, por isso levantei essa questão da alma comigo mesma. Me fiz exatamente essas perguntas que lancei para vocês anteriormente. Fiquei pensando no que seria capaz de fazer para conseguir o que quero e cheguei a apenas uma conclusão, que pode soar completamente clichê, mas que me deixou em paz. Conclui que por mais que eu caia, sei que quando levanto, estou com mais força e preparada para tentar algo maior. Tenho a convicção de que, ao chegar lá, poderei sentir orgulho de mim mesma por não ter aceitado vender minha alma. A alma nos dois sentidos.

Para finalizar, quero citar dois posicionamentos a respeito da questão levantada. Eles sintetizam bem os extremos, a crença e a descrença, o etéreo e o palpável, o espírito e o corpo.

“A venda da alma ocorre quando você abre mão de algumas coisas ou valores que você acredita fundalmentalmente. Acredito que nós somos carne, alma e espirito. Basicamente.” (Rodrigo Furquim).

“Eu venderia sem problema algum. Alma não existe. Se alguém quiser comprar algo que não existe, venda né. Só deve ficar esperto com os recibos.” (Luiz Otávio Silva).

Revisão Felipe Rui.

3.11.10

Vermelhou!

Segunda-feira, 1º de novembro de 2010. Não lembro como o dia amanheceu. Não vi o céu de Brasília. Não soube se o sol brilhava, se a chuva caía ou se estava simplesmente pintado de cinza. Em contrapartida, lembro da noite anterior. Não era uma noite comum, não estava negra como de costume. Estava colorida por um vermelho vivo, vibrante, emocionante. Para alguns, essa vermelhidão eminente tinha o sabor amargo da derrota, inconformismo e insatisfação. Para outros tantos, era doce, com um sabor inconfundível de felicidade, êxtase, confiança e vitória.

Posso dizer que sempre simpatizei com Lula, porque isso vem de raízes familiares. Quando criança, fui aos seus comícios na minha cidade e na estante da sala na casa de minha mãe, tem uma foto minha abraçada a ele, aos 10 anos de idade. Mas, fora esse fato histórico pessoal, isso nunca chegou a me interessar de fato e por muito tempo estive apática. Claro, eu acompanhava por noticiários e revistas os diversos momentos marcantes desses oito anos do governo Lula. Eu sabia o que estava acontecendo, mas não me importava. Eu vivia em cima de um confortável muro lilás. (rosa não é minha cor favorita - risos).

Quando foi lançada a candidatura de Dilma, eu nem tinha noção se realmente iria apoiá-la. Como muita gente por aí, eu também dizia que não conhecia aquela mulher. Só que aí pensei, por que não? Por que não posso conhecê-la? Como posso dizer que não quero essa pessoa governando meu país, se não tenho sequer conhecimento sobre quem ela foi e quem é. Foi o que fiz. Aliás, foi o que fizeram por mim, porque teve uma pessoa em especial que me mostrou não apenas sobre ela, a candidata, mas a respeito de todo um universo por trás daquilo que eu achava que sabia sobre Política.

Confesso que em diversos momentos eu pensei em voltar para cima do muro. Fui descobrindo um submundo de mentiras e alianças interesseiras que me davam ânsia e o mais complexo, pra mim, foi aprender a aceitar que Política é para quem tem estômago forte. Que a corrupção, infelizmente, está presente em todos os partidos e que cada um deles, tem sua cestinha de maçãs podres. Quer dizer, é ingenuidade afirmar que o Governo Lula foi o mais corrupto da História desse país. Todos os mandatos anteriores também tiveram corrupção, a diferença é que foi quase tudo muito bem encoberto. O que é muito pior!

Durante todo esse percurso de descobertas tardias eu ainda tinha medo de me expor, de entrar em debates onde não conseguiria comprovar, com dados estatísticos, o que eu dizia. Porque no fundo, no fundo, não estava madura o suficiente. A eleição de 2010 foi a primeira em que eu realmente quis saber o “porque dos quais e os poréns”. Eu estava ali, lendo, ouvindo, questionando e aos poucos, tive certeza do que eu queria, não apenas pra mim, mas para meu país. Foi quando eu pude defender de verdade uma convicção política, quando eu ousei declarar abertamente no que eu acreditava e escancarar tudo que eu pensava ou sentia, sem medo de ser feliz.

No fim de tudo, nem acompanhei o “rebuliço” da Dilma, como disse minha mãe. Não fui para a rua comemorar sua vitória. Era desnecessário, porque eu sabia que a maior comemoração acontecia dentro de mim e de todos os brasileiros que votaram nela. Que acreditam que o país pode de fato seguir mudando, melhorando, crescendo e aparecendo, por suas qualidades.

Então, amigos, é chegada à hora de encerrar as “guerrinhas partidárias”. Não há mais a disputa esquerda x direita, PT x PSDB, Dilma x Serra... Não é mais o momento de desdenhar a pessoa escolhida por grande maioria dos brasileiros, nem de desacreditar na sua capacidade de fazer melhorias por afirmar ser ela uma total desconhecida no âmbito político, mesmo porque, ela não é. Teremos quatro anos para saber do que Dilma é capaz. O Brasil saberá e o mundo também.

Desejo sinceramente que os próximos anos sejam os melhores e que possamos viver em um país mais digno e com a tão sonhada igualdade. Que os preconceitos sejam postos de lado, pois independentemente do estado que nascemos e vivemos, das nossas escolhas partidárias e das nossas diferenças culturais, todos queremos a mesma coisa: um país mais justo e democrático. Sem ilusões, sem demagogias e, principalmente, sem guerras particulares.

Obrigada a todos que tem visitado o blog e tem deixado seus comentários. Quem entra e não comenta, também é bem-vindo. Todos sempre são!

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Até semana que vem e que nosso Brasil siga mudando.

Beijos!

Revisão Felipe Rui.