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1.10.11

Doce e amarga.

Foto: Luiz Paulo Marques de Souza
Sou uma pessoa que não dou para trás em meus planos. Traço uma reta e sigo por ela. As vezes, claro, ensaio uma circunferência. Mas jamais estaciono no ponto final. Acho que minha vida é meio que um squiggle infinito.

Não faz muito tempo,  juntei meus trapos e subi em um ônibus rumo a São Paulo. Foram quase quatro horas de viagem, onde tentei acalmar um constante medo que eu tinha, o de me tornar mais uma daquelas pessoas que se perdem por aqui e jamais são encontradas. Pra variar, junto com minha pequena bagagem vieram grandes expectativas. Normal. Acho que todo mundo é assim. O ser humano é assim, adora criar sua própria dimensão das coisas.
Foto: Rosangela Lima
  
Aqui se trabalha muito. Gasta-se o dobro do tempo para ir a qualquer lugar, mesmo quem tem carro. Só para ir na esquina você já paga R$10. Tá todo mundo sempre cansadas. O trânsito é infernal... Mas por que as pessoas insistem em vir para cá? Por que eu vim para cá? Por que todo dia desembarca um monte de gente na rodoviária do Tietê ou em Guarulhos e Congonhas? 

Quando cheguei em São Paulo, me deparei com um formigueiro. Um grande formigueiro cheio de pequenas cabeças apressadas. Corpos esbarrando uns nos outros, sem tempo de parar e pedir desculpa. Carros com pessoas impacientes e suas buzinas incessantes. Uma infinidade de viadutos sem mais espaço para guardar os cobertores de quem dorme ao relento. 

Grande parte dessa cidade é etérea. Aqui os prédios se constroem sob esperança. Os ônibus passeiam por ruas de saudade. As pessoas caminham por calçadas de alegrias e tristezas. Os muros são pichados com frases poéticas. Os sonhos são realizados e as ilusões destruídas. Alguns planos são concretizados e outros sequer saem do papel. E ninguém vai embora.

Qualquer pessoa que eu conheço, que tenha vindo para cá, veio atrás da realização de algum objetivo. São Paulo é uma cidade cheia de defeitos, mas é um lugar que há anos recebe milhões de pessoas e abre cada vez mais espaço para acolhê-las. Talvez por isso já esteja cheia demais.
Foto: Marco Braz
Aqui eu dividi quarto em um pensionato com cinco meninas. Trabalhei em uma editora, onde tinha que vender espaço publicitário, o que implicava andar por lugares que eu nem conhecia. Conheci pessoas incríveis por um tal de Twitter. Entrei para uma grande empresa que jamais pensei ter chance. Consegui um cantinho só pra mim. Descobri que quanto mais você ganha, menos você gasta fazendo o que gosta. Conheci mais gente incrível. Adotei uma gatinha e tive a pachorra de chamá-la de Panicat. Percebi que não adianta morar em uma cidade legal, conhecer pessoas incríveis e ganhar dinheiro se você não tem disposição para aproveitar nada disso... Enfim.

Nessa cidade, as ilusões se desfazem, mas as pessoas continuam aqui. E eu, mesmo depois do medo, das incertezas, das lágrimas, da dor e depois do escorregão no meu primeiro dia, o que me deixou o joelho direito roxo por semanas, cheguei e fiquei. E não vou mais a lugar nenhum. Porque a minha vida agora é aqui. Debaixo dos prédios altos e sob o incessante barulho das buzinhas ensurdecedoras. Pelo menos, até o próximo traço do meu squiggle


Revisão: Felipe Rui.


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Bom, depois de mais um longo hiato, cá estou eu novamente com minha enorme cara de pau, esperando que vocês ainda venham ler este blog. rs
Espero que gostem desse meu pequeno depoimento sobre minha grande aventura nessa selva chamada São Paulo. Um lugar em que se mata um leão por dia, para se ter a dádiva de deitar e poder sonhar toda noite.

Beijos!