28.11.09

Estranhas gentilezas.

Tem dias que a gente tá tão feliz, que dizer um "oi" a um estranho não parece nada estranho, né? Pois bem, hoje foi meio assim. Não que eu estivesse saltitando de alegria. Na verdade, eu acordei muito mal humorada. Mas, me neguei a ficar assim por muito tempo e resolvi reverter o quadro de rabugice.

Decidi por fazer pequenas coisas. Dei bom dia para quem eu encontrava na rua. Segurei a porta do elevador para as senhoras com sacolas nas mãos. Brinquei com o cachorro da moça que passeava na rua. Acenei para o velhinho na janela. Apertei a bochecha rosa e gorda de um bebê que tava brincando na pracinha. Entre outras estranhas gentilezas com estranhos. Enfim, estava tentando "socializar", ser simpática e mostrar um pouco de amabilidade.

Agora, respondam sinceramente. O que vocês acham que rolou durante e depois dessas atitudes? Aposto que pensaram "nossa, as pessoas devem ter achado bacana" ou coisa assim, né? Pois, estão enganados, meus caros. Sei lá por que cargas d'águas, não sei se eu parecia meio maluca ou coisa do tipo. Mas, as pessoas não foram tão receptivas como eu esperava que fossem.

Os meus bom dias eram olhados com surpresa e respondidos apenas com múmurios de cabeça baixa. Uma das senhoras, entrou no elevador com a cara mais carrancuda do mundo e simplesmente apertou o botão. O velhinho na janela colocou a cabeça de volta para dentro de casa. A moça pegou o cachorro no colo. A mãe do bebê fechou a cara. Mas, pelo menos o bebê sorriu! Isso, confesso, compensou a ação.

Quase nenhuma pessoa experimentou esboçar um sorriso ou quiça agradecer. Fique tão "passada"! E claro, comecei a me perguntar: WTF está acontecendo com essas pessoas? Não quis dizer com "as pessoas" para não generalizar, afinal tem muita gente disposta a retribuir ou oferecer gentilezas gratuitas. Mas, aquelas, especificadamente, ou estavam muito de mal com o mundo ou eu realmente parecia maluca ou, as pessoas realmente estão cada vez mais temorosas.

Sério, fiquei afim de entender o motivo. Será que o mundo anda tão complicado que as pessoas têm medo, receio, má vontade, ou o que quer que seja, de falar com quem não conhece? Será que agora é cada um no seu círculo social e ponto final? Bom, se for assim a partir de agora, eu me recuso a compartilhar disso. De verdade!

Tudo bem, que a gente vê muita coisa maluca acontecendo por aí. Tem muita gente que faz o mal a revelia, sem importar-se em magoar ou assustar as pessoas. Mas, poxa, também tem gente bacana de sobra pelo mundo. Gente que você pode nem conhecer direito, mas que alguma coisa que preste ela pode ter ensinar, oferece ou compartilhar.

Eu, sempre fui muito receptiva com pessoas estranhas. Nunca tive essa de receio e coisa e tal. Nunca respeitei muito o conselho que as mães dão de não falar com estranhos. Claro, já encontrei gente do mal. Já meio que me ferrei por confiar em quem não conhecia bem. Mas, são coisas da vida. Nesse intermédio entre o "bem e o mal", conheci pessoas excelentes. Algumas só falei uma vez, outras levo para a vida toda. E foram grandes experiências. Não tenho arrependimentos.

Por isso, que por essas e outras, hoje fiquei muito triste. Triste por perceber que vou acabar deixando para meus filhos um mundo cheio de gente que não se presta mais a vivenciar a experiência do bom e velho desconhecido. E pior, pessoas que sequer sabem retribuir pequenas coisas que fazem a vida melhor.

Bom, é isso aí pessoal. Esse post foi mais um desabafo compartilhado com vocês.

E agora, um trecho de uma música do Zeca Baleiro. Que apesar de tratar de uma felicidade advinda de um romance, traz um pouco da sensação que senti hoje ao acordar e querer fazer pequenas e estranhas (?) gentilezas.

"Hoje eu acordei
Com uma vontade danada
De mandar flores ao delegado
De bater na porta do vizinho
E desejar bom dia
De beijar o português
Da padaria..."

Telegrama - Zeca Baleiro

P.S. Bom,todo mundo deve conhecer. Mas, se por acaso alguém não ouviu essa música ainda.Ta aí. Enjoy!


Beijos e mais beijos! Porque como diz um novo amigo meu, quem gosta de dar só abraço é vendedor de carnê do Baú. rs

17.11.09

Contos pra te contar. [3]

Olá você que visita meu blog pela primeira vez. Olá amigos que sempre passam por aqui!
Dessa vez, deixo para vocês, um conto que fiz em 2006 para o concurso Contos do Rio. Eu mudei algumas coisas, mas a ideia é a mesma do anterior.
Espero que gostem e deixem suas impressões a respeito.
Beijo!


O mar que te levou

Ainda me lembro bem daquele dia na praia de Copacabana. O sol brilhava intensamente e o mar estava tão azul que dava gosto de olhar. Morávamos no Rio de Janeiro há apenas alguns meses, por isso, eu e Milena ainda não havíamos perdido o encanto pelo mar. Também pudera, era a primeira vez que tínhamos todo esse contato com ele.

Naquele dia, eu estava particularmente aborrecido com minha mãe. Ela havia me obrigado a acompanhar Milena até a praia para brincar. Não que eu odiasse minha irmãzinha, mas tinham horas que eu queria ficar só e pronto.

Enquanto ela se deliciava na areia, montando castelos e procurando conchinhas. Eu só pensava em como seria bom quando eu não mais tivesse que seguir as ordens dos meus pais.Deitei a cabeça na areia e fiquei imaginando como seria quando eu chegasse aos 18. Em minha opinião, ter 13 anos era demasiado chato, e tudo que eu realmente queria era ser dono do meu próprio nariz. Depois do meu breve estado de revolta, me resignei e comecei a pensar nas viagens que faria. Uma volta ao mundo, quem sabe. E tudo só com uma mochila nas costas, afinal, quem precisava de mais que isso?

Fiquei por ali, perdido em devaneios, sonhando acordado com uma vida onde eu não era obrigado a levar minha irmã mais nova para passear. Fui tirado de meu passeio mental quando por entre os barulhos habituais da praia, consegui distinguir os gritinhos de minha irmã. Levantei atordoado, olhei diretamente para onde eu a havia visto pela última vez e não vi nada além de um castelo semi destruído por uma onda.

Minha primeira reação foi raiva. Que estupidez ela havia feito dessa vez, pensei enraivecido. Se meus pais ao menos sonhassem que eu a havia perdido de vista, era castigo na certa. Aí, adeus férias. Depois, caminhei em direção ao mar. Da distância que eu estava, mal conseguia enxergar, mas não pude deixar de notar aquelas pequenas mãozinhas acenando pra mim.

Senti um nó se formar em minha garganta e corri desesperado para dentro da água. Não deve ser muito fundo, pensei. E entrei no mar, lutando contra as ondas que insistiam em querer me derrubar. Estou chegando, maninha, eu gritava desesperadamente. As mãozinhas ainda se agitavam, mas eu sabia que o tempo estava contra mim.

Consegui chegar até ela. Segurei firme sua mão gelada e tentei arrastá-la junto comigo. Eu lutava contra a correnteza. Parecia inútil continuar lutando. Senti ela escorregar por entre meus dedos finos. Não solta, Milena, consegui gritar. Acho que ela não me ouvia mais. Senti algo forte me puxando e apaguei completamente.

Acordei em um lugar muito diferente do que eu estava acostumado. Tudo era branco demais. Estou no céu, pensei comigo. Pisquei vagarosamente para tentar assimilar as imagens que se formavam diante dos meus olhos. Ainda me sentia meio zonzo. Olhei ao redor e vi um grande jardim com flores de cores inimagináveis. Aquilo parecia um parque. Parecia com a descrição que mamãe nos dava do céu.

De repente, como que em um insight, visualizei tudo que havia acontecido. Lembrei de Milena e comecei a chorar. O que havia acontecido com minha irmã? Ela havia sido salva! Só podia ser isso. Senão, ela estaria junto a mim. Olhei ao redor para ver se consegui enxergá-la. Consegui avistar sua figura minúscula e ela estava sentada em um dos grandes bancos daquilo que eu nomeara “parque do céu”.

Corri ao encontro de minha irmã, pensativo. Afinal, se ela estava ali também, isso significava que nossos pais agora estavam sozinhos. Senti tristeza ao pensar nisso. Olhei para ela e parecia muito melhor do que eu conseguia lembrar. Seus cabelos castanhos brilhavam e seus grandes olhos verdes reluziam sob a luz do sol. Minha irmã parecia muito feliz. Sorri para ela, que retribuiu o sorriso de imediato.

Abri a boca para pronunciar as primeiras palavras, mas ela silenciou minha voz. Levantou o dedinho como quem diz “shhh”. Em seguida, tocou minha mão de leve e eu senti que flutuava. Olhei em volta e já não estava no “parque do céu”. A gente estava de volta ao meu quarto, na casa nova do Rio. Olhei encabulado para a cama e me assustei ao notar que eu estava lá. Mas, como é possível? – pensei. Até onde eu sabia, não era comum estar em dois lugares ao mesmo tempo.

Milena apertou minha mão para que eu olhasse para ela. E pela primeira vez, desde o acidente no mar, ela falou. Minha irmã contou que sua passagem naquele mundo que nos acostumamos a chamar de lar, havia acabado. Ela não iria mais morar com a gente, mas sim, naquele lugar lindo que eu havia visto antes.

Pediu que eu não me entristecesse e nem me culpasse pelo o que havia acontecido. Que eu precisava ser forte. Nossos pais iriam ter ainda mais necessidade de minha presença e alegria. Eu ficava atento a cada palavra que Milena dizia. Aquela voz de anjo. Não queria perder nem por um segundo a doçura de sua presença. Então, ela disse que era chegada à hora de eu voltar definitivamente. Que eu deveria sair daquilo que os médicos intitularam depressão pós-traumática e viver a vida com mais intensidade.

Nunca consegui esquecer suas últimas palavras. “Sempre que sentir saudades, olhe para o mar. Ele me levou, ele me trará”. E para ser sincero, jamais me acostumei com a perda de minha irmã. Sua ausência foi sempre uma presença constante em toda a minha vida. Mas, por mais que pareça loucura, sempre que olho para o mar é como se ela estivesse de fato ao meu lado.


Outros Contos pra te contar:

13.11.09

Ser boazinha não pode!

Estávamos eu e um casal de amigos no aeroporto. O voo dele atrasou e a gente resolveu gastar o tempo em uma banca. Passei os olhos nas prateleiras e peguei alguns livros para folhear. Estava sem nenhuma intenção de comprar nada, então fiquei de bobeira. Um tempo depois, meu amigo soltou essa:

- Aqui Gabi. Leia esse livro e depois me conta o resultado.

Vindo dele, só podia ser alguma sacanagem, pensei. E eis o título do livro: “Por que os homens amam as mulheres poderosas?” e com direito ao subtítulo “Um guia para você deixar de ser boazinha e se tornar irresistível”. Olhei com desdém, é claro. Primeiro: detesto guias. Segundo: livro de auto-ajuda? Por favor! Terceiro: ele estava me sacaneando mesmo.

Minha amiga pegou o livro da prateleira e começou a ler pra gente. Primeiro capítulo “De capacho a mulher dos sonhos – Conheça seu próprio valor e ele a valorizará”. Eu ri, mas prestei atenção. Aí vieram os tópicos:

1º. Tudo aquilo que perseguimos foge de nós.
2º. As mulheres que enlouquecem os homens nem sempre são excepcionais. Em geral, são aquelas que dão a impressão de não se importar muito.
3º. Um homem percebe que a mulher oferece um desafio mental quando ele sente que não tem total domínio sobre ela.
4º. Algumas vezes o homem não telefona de propósito, só para ver como você reage. (ok confesso que esse eu achei interessante).
...

Segue a lista. E o resto do livro é todo cheio de dicas de como não ser você para conquistar um homem. Quer dizer, na verdade ele vem maquiado com ideias de valorização. Ensinando você a dar mais valor a si para que o homem te queira mais. Mentira. É tudo mentirinha. O livro na verdade, é só um resumo de matérias que saem em revistas como “Nova”, “Claudia” e afins. E o que saem nessas matérias? Dicas de como conquistar um homem. Só isso.

Eu confesso que já li muito à Nova. O que aprendi com ela? Nada. Gente, nenhuma dessas dicas serve exatamente para coisa alguma, além de te deixar encanada pensando “Meu Deus, eu fiz do jeito errado. E agora?”.

Bom, mas, o foco aqui é o conteúdo do livro. Só que esse post não é nem de longe uma crítica a ele, certo? Não tenho embasamento suficiente para isso. Mas, como eu dizia, no livro, ser boazinha é meio que ser “otária”. Ou seja, você gosta da pessoa e quer agradá-la. E você está errada em fazer isso. De acordo com o ele, você tem que parecer desinteressada, aparentemente desprovida do desejo de um compromisso sério, ser o tempo inteiro segura de si, não pode se dar ao luxo de resmungar e tem que ficar sempre criando novos desafios mentais para que o bonitão não perca o interesse por você. Ah, peraí, tem o mais importante: nunca dizer “ele tem que gostar de mim do jeito que eu sou”, porque isso te torna incapaz de se adequar ao que ele quer. Aí, minha filha, de acordo com o livro, você vai ficar para tia.

Uow! É informação demais, né não? E tudo meio contraditório. Não pode parecer interessada, mas tem que ser flexível quanto aos desejos e vontades do gato. Sei lá. Tipo, não dá para simplesmente ser você mesmo? Têm realmente que tomar todas essas precauções para ter alguém bacana do lado?

Eu fiquei cansada só de pensar que preciso realmente fazer isso tudo. E olha que sou naturalmente pensativa e criadora de hipóteses. Não consigo deixar rolar sem antes imaginar como pode ser. Mas, puxa, pensar em cada detalhe assim é de desanimar. E se eu precisar ser realmente essa perfeição toda para ter alguém, já sei que vou ficar para tia dos filhos dos meus primos. Porque nem irmãos para me dar sobrinhos eu tenho.

Uma pequena observação: essa história de que gostamos mais de quem nos “maltrata” é lorota. Pelo menos a mim não se aplica. Então, custa-me crer que os homens realmente prefiram uma poderosa malvada a uma romântica boazinha. Estou certa ou errada?