Quando um músico é realmente bom no que faz, ele consegue arrematar para si uma legião de pessoas que admiram e acompanham seu trabalho: os fãs. A relação fã/ídolo é uma temática que nunca deixou de ser discutida na esfera artística. Existem histórias ótimas a respeito disso, mas também tem as trágicas. O assassinato de John Lennon não me deixa mentir.
Tenho uma amiga que é fã de Engenheiros do Hawaii. Ela viaja longas distâncias só para acompanhar shows com um repertório que ela possivelmente conhece de cor e salteado. Já dormiu em rodoviária, madrugou em frente ao hotel em que estavam hospedados, levou bronca do chefe por faltar para viajar... Ao ser questionada se não acha tudo uma perda de tempo, ela responde, como qualquer fã incondicional, que tudo vale a pena se for para acompanhar de perto o trabalho da banda que ela ama. Sobre seu ídolo Humberto Gessinger, ela é sincera ao dizer que ele é um cara chato, mas isso não diminui sua dedicação ao acompanhar o trabalho dele. Afinal, ele é atencioso com quem o procura para fotos e autógrafos, mesmo que nem sempre esboce sorrisos e esbanje simpatia. Esse caso é apenas um exemplo de uma fã sensata que consegue reconhecer que por trás do artista existe uma pessoa comum, que tem vida além dos palcos e como qualquer outra tem seus dias de indisposição. Algo que nem todos entendem.
Não é difícil encontrar músicos taxados de arrogante por aí, pela mídia e até mesmo pelos próprios fãs. Alguns obviamente merecem a fama que tem. Liam e Noel Gallagher do Oasis são disparados o melhor exemplo que tenho para citar. Pelo que muitos dizem, os caras consideram sua banda a melhor do mundo e dizem vender mais discos que a Bíblia. Ao fazer uma pesquisa rápida entre amigos, também foram citados João Gilberto, Los Hermanos, Caetano Veloso, Lulu Santos, Metallica e Tico Santa Cruz. Cada um deles citou a motivação que os levaram a pensar que as atitudes desses artistas eram consideradas arrogância. João Gilberto, por exemplo, foi citado por sua má vontade em dar entrevistas, Tico por achar que é o cara mais intelectual da face da Terra e o Metallica por um episódio de 10 anos atrás quando, por meio de uma ação judicial, proibiu um programa que baixava e compartilhava músicas pela Internet.
Essa discussão é abrangente e pode tomar rumos diversos. Esses dias li um texto que avaliava essa questão a partir da visão dos fãs. Pois, tem muita gente que reclama dessa postura mais arredia quando é travado o corpo a corpo fora dos palcos. A recusa de um autógrafo, uma foto, um aceno, uma entrevista e até mesmo um sorriso é vista com maus olhos, já que acaba sendo considerado desrespeito e desatenção com aqueles que fazem o cantor ou a banda se manterem nas paradas do sucesso.
Minha opinião é diferente. Ser sempre simpático, ter boa vontade e disposição para agradar milhões de desconhecidos que se jogam na sua frente, ávidos por um minuto de sua atenção, não deve ser fácil. Imagina sair cansado de um mega show, onde você se doou de corpo e alma e ainda ter que ficar esbanjando sorrisos quando sua única vontade é ir dormir. “Há de se diferenciar arrogância de verdade da natureza tipicamente reservada de algumas pessoas. Não é do temperamento de todo músico – e nem precisa ser – ficar distribuindo sorrisos e papo furado a todos os fãs que lhe abordam. Imagina que saco deve ser!?”.
Se o cara sobe em um palco, detona clássicos e mais clássicos e sai sem interagir com o público após o show, os fãs não tem do que reclamar. O trabalho dele é cantar pra você, não ser seu amigo. Ter admiração é uma coisa, idolatria é outra. Idolatrar qualquer ser humano é uma idiotice sem tamanho e quando eu vejo gente chorando por um artista, quero cortar meus pulsos. No caso da música, compreendo que no momento em que você ouve uma determinada canção que te marcou, a emoção bate e não dá para segurar, mas passado isso, acabou. Não tem que sair correndo atrás, puxar, arranhar, gritar, se humilhar pela atenção de uma pessoa que nem te conhece e se caso te notar, nem se lembrará da sua existência posteriormente.
Na relação músicos/mídia também rola umas estremecidas. Tem muita gente que não gosta de conceder entrevistas e ponto. São enfáticos quanto a isso e tem seus motivos. Não é difícil notar que muitos deles pararam de dar atenção aos jornalistas depois de anos sendo entrevistados por pessoas inconvenientes, que não se preocupam sequer em checar fatos antes de fazer qualquer pergunta, ou fazem perguntas óbvias. Um exemplo disso é a clássica sobre a música Anna Júlia aos caras do Los Hermanos. Tem coisa mais chata do que ter que responder a mesma pergunta por anos a fio?
Só para finalizar, quero dizer que sou muito fã do Chico Buarque. Admiro suas composições e seu jeito de traduzi-las através da entonação da voz. Nunca o encontrei pessoalmente, mas, se um dia o encontrar e ele não me der atenção, não vou deixar de apreciar sua música. Porque, afinal de contas, não quero saber do Chico homem, do Chico político, do Chico amante... Se ele é arrogante ou não, se ele é bonzinho ou malvado, isso é problema dele. Eu quero apenas o Chico cantor. Isso, pra mim, é ser fã. Simples assim.
É isso, galera! O que acharam do texto, do tema, dessa discussão? A propósito, essa temática foi sugerida por meu colega Luisão. Se algum de vocês quiser sugerir algo, tô aberta a sugestões. ;)
Obrigada a todos os comments do texto da semana passada. Teve uma galera nova comentando e eu achei muito bacana. Fiquem à vontade para divulgar o blog por aí, viu. Agradecimentos a minha amiga Sara que autorizou que eu a citasse como exemplo e aos meninos que colaboraram com opiniões e informações para o texto.
Um beijo e até semana que vem.
Colaboração - Luisão, Rodrigo Furquim, Thiago "Tatu" Andrade e Rafael Marcondes.
Revisão - Felipe Rui.