18.8.09

Quando foi que ficamos tão insensíveis?



Um dia desses assisti um vídeo* que faz parte de uma interessante campanha de conscientização. Ela trata da falta de sensibilidade do ser humano, principalmente quando adulto, diante das mazelas sociais. Nesse caso em particular, trata sobre o abandono e o trabalho infantil. Mas, este é apenas um exemplo dentro de uma gama de outros que merecem ser observados.

Deixando de lado qualquer discurso demagógico a esse respeito, acredito que o abandono seja o pontapé inicial para essa discussão. Família, amigos, comunidade, governo, não importa. O ato de abandonar alguém a própria sorte - mesmo que essa pessoa tenha possibilidades de em algum momento tomar conta de si - é o primeiro sinal de que cada vez mais o ser humano tende para a insensibilidade.

Obviamente, temos sempre um discurso pronto para justificar nossa falta de ação. “É um problema social, então, o governo que resolva”, “Ah, alguma coisa essa pessoa fez para merecer essa situação. Deve ser para pagar seus pecados” ou “Se a gente parar para pensar nesse tipo de coisa, enlouquece” e assim por diante. Vamos passando o problema para frente e dizendo “Epa, isso aí não é comigo não!”.

Crianças pedindo esmola ou sendo obrigadas a trabalhar nas ruas, enquanto podiam brincar e estudar ou simplesmente ser criança. Idosos relegados ao esquecimento em asilos, a maus-tratos dentro do lar que ajudou a construir ou até mesmo vagando pelas ruas sem o descanso que a idade o fez merecer. Mães arrastando seus filhos pelas ruas com olhos de fome, implorando compaixão e caridade. Doentes mentais sendo rechaçados, servindo de brinquedo nas mãos de pessoas que não imaginam que um dia possam passar pelo mesmo transtorno. Imagens nada incomuns que povoam nossa realidade, não é mesmo?

Todos os dias nós acompanhamos situações como essas. Seja nos meios de comunicação, na rua, na escola, no trabalho, na casa do vizinho ou até mesmo dentro de nossa casa. E geralmente fazemos o que? Alguns se indignam, outros lamentam, mas a maioria não faz nada. Isso mesmo, nada. E não porque não pode, mas por acreditar que o que vai fazer é pouco demais. Acaba que quase ninguém age de verdade e alguns problemas que são pequenos tomam proporções muito maiores.

Acredito que o sofrimento humano anda tão banalizado que o próprio ser que o sente despreza o que está sentindo. A violência, a fome, a falta de educação, a discriminação, o abandono, a esposa espancada, a criança que pede pra olhar o carro e o velhinho dormindo na calçada tem seu foco desviado para outras atenções. Nós passamos a nos atentar muito mais para os escândalos do Senado, às acusações de mau uso da fé nas Igrejas, ao time que vai mal no campeonato, a reviravolta que vai acontecer na novela, enfim, a qualquer coisa que não nos faça ter que observar as desgraças humanas.

Claro, não estou dizendo que devemos ficar “bitolados” com a condição humana. As mazelas sempre existiram e continuarão a existir. Mas, é constrangedor perceber como algumas coisas estão se tornando invisíveis para nós. Que quando nos tornamos adultos ficamos com a capacidade de enxergar apenas aquilo que queremos ver. E que ainda por cima, muitos de nós escolhem ficar cegos.


*Vou procurar o vídeo para linkar aqui.

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P.S. Quem tiver dicas de textos similares, por favor, me indica! =)

10 comentários:

Sil disse...

Oi Gabi...

Tá sumida mulher...

Olha, concordo muito com este texto e vejo que é bem isto que você escreveu: "Acredito que o sofrimento humano anda tão banalizado que o próprio ser que o sente despreza o que está sentindo."

Vejo por mim, minha preocupação tem sido única e exclusiva por meus problemas amorosos e minha preocupação com o futuro da minha carreira...

É tão difícil tudo o que há...

Ah.. como dico, deixo aqui o link do blog de um amigo meu que vivencia bem esta questão e está lutando para fazer a diferença:
http://alessandroalmeida.blogspot.com/

Bjinhos...

Petit Gabi disse...

Olá Silvia!

Pois é, o nosso mal maior é apenas olhar em volta do umbigo.Valeu pela dica!

Bjão!

Carminha Silva disse...

Oi Gaby concordo plenamente com o seu texto,pois vivo pensando nisto o tempo inteiro.Como que as pessoas a cada dia que passa estão mais insensivéis com os problemas do próximo,fazendo de conta que não fazem parte deste munto quando nos mostramos alheios a essas coisas.Ontem pela manhã o meu coração ficou cortado de tristeza, quando fui ao banco do Brasil e vi uma criança de mais o menos uns 9 anos dormindo na calçada perto da vidraça do banco.Todos as pessoas vendo aquilo e não faz nada.Inclusivo eu,que me sinto impotente diante de tal situasção.Penso em fazer alguma coisa para cuidá-lo,mas não sei como,pois tenho os meus sobrinhos na mesma idade que também precisa de mim.Sinceramente é muito difícil,mas alguém têm que fazer alguma coisa por estas crianças que andam por ai medigando...Tomara Deus que alguém que faz um trabalho social ajude essa criança encontrar uma forma de sair deste abandono que é o de ficar na rua sem fazer nada,sem ir à escola...Com carinho Carminha.

Petit Gabi disse...

Oi Carminha!
Bem-vinda ao blog!rs
Também me sinto assim sempre que vejo situações como essas. É difícil ver essas crianças largadas e não fazer nada. Em contrapartida, como você disse, cada pessoa tem seu círculo de pessoas a serem cuidadas.
Acho que a solução parte da ação de todo mundo junto.
Sei lá... É muito fácil falar em agir e continuar parados, né!?

Beijão!

Marco Aurélio disse...

"Todos as pessoas vendo aquilo e não faz nada.Inclusive eu,que me sinto impotente diante de tal situação"

Opa, eu tambem ja me vi em casos assim!

Mas acredito que escândalos do Senado, atitudes errôneas de politicos, refletem indiretamente no caso abordado e tem peso significativo, principalmente quando verbas que deveriam atender os mais carentes sao embolsadas pelos verdadeiros ladroes...

So que passamos mesmo mais tempo pensando na politica e nos mantemos cegos perante as maselas sociais.

beijo

Petit Gabi disse...

Verdade Marco! Concordo contigo na questão da verba mal direcionada pelo governo. Mas, isso é só uma das vertentes que causam o problema.

Tava sentindo sua falta por aqui! =)

Um beijão!

Renato Alt disse...

É, Gabi... acho que muitas vezes a gente acaba considerando que essas situações não nos dizem respeito...

Bom, já que você pediu dica de textos similares, posso deixar o link de um do Aperte, bem antigo?

http://aperteoalt.blogspot.com/2006/09/inbox.html

Beijos e parabéns.

Petit Gabi disse...

Oba Alt! Obrigada pela colaboração.

Grande abraço!

César Augusto Santiago disse...

E ae Gabi! eu entro sempre no seu blog, nunca comento, então, resolvi lhe mandar um beijo por aqui. Gosto muito dos seus textos, principalmente é fácil ver que eles possuem sempre um pedaço de você. :-)

Beijos!

César A. Santiago

Analista de sua própria vida disse...

De fato é muito triste o que você falou. Parece que não querendo assumir o que está ao nosso redor, relegamos a culpa do que acontece ao Estado, como se nós não pudéssemos ajudar também. O pior é que ainda existe gente disposta a se aproveitar da boa vontade de uns poucos. Brasil, minha filha.